Quaresma

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A 4a feira de cinzas é o início da Quaresma para os Católicos e algumas comunidades cristãs. Pode soar, para alguns, meio estranha a “conexão” entre Carnaval e Quaresma mas, na realidade faz muito sentido e tem um porquê.

A Quaresma é a preparação para a Páscoa, uma época muito especial para os fiés. A Igreja veste seus ministros com a cor roxa, simbolizando tristeza e dor, revivendo os últimos dias de Jesus aqui na terra e todas as provações pelas quais passou. Os seus últimos dias foram de muito sofrimento. Dura 40 dias e vai até a 5a feira da Semana Santa. Na Quaresma os cristãos são convidados a relembrarem os 40 dias em que Jesus passou no deserto antes de começar de fato a sua vida pública de pregação.

Na 4a feira de cinzas são realizadas missas e os fiés da religião católica são marcados na testa com cinzas para lembrar a própria finitude, a própria mortalidade. Os ramos abençoados no Domingo de Ramos, já secos, são queimados e viram cinzas. E são essas as cinzas usadas para marcar os fiés.

Como é dito em Gênesis 3:19: “Pois tu és pó, e ao pó retornarás”. Tudo é efêmero, passageiro.

Imagem Pixabay

Qual a ligação entre Carnaval e Quaresma?

A palavra CARNAVAL vem do latim CARNIS LEVALE, tendo como tradução literal ‘abstenção da carne’. Portanto, dia de se despedir da carne e dos excessos.

Se voltarmos no tempo da Roma antiga, o Carnaval era uma festividade celebrada todo mês de fevereiro. A Februa. Época em que as sementes eram lançadas. Muita comida, bebida, festas. Muitos excessos. E quando o assunto era os prazeres da carne (nesse caso estamos falando no sentido figurado e não literal), a coisa esquentava de forma pesada. Bem pesada.

Com o Cristianismo e a Igreja Católica mais consolidada (estamos falando das primeiras décadas dos anos 300) tudo passou a ter um novo sentido. A 3a feira que precede a 4a feira de cinzas e, consequentemente, o início da Quaresma passou a ser o último dia de um período comum. A partir do dia seguinte, e durante 40 dias, inicia-se um período mais reflexivo.

E assim a Quaresma passou a ser praticada pelos cristãos no mundo. De forma global. Passavam dias fazendo jejum, penitências e muitas orações. Com o passar dos anos a liturgia continuou profunda. Porém, as práticas das penitências tornaram-se mais brandas.

No Brasil, passou a ser um ato de muita devoção da parte dos fiéis desde a década de 70.

De certa maneira, quem marca o Carnaval é a Igreja Católica

Você pode estar se perguntando: Como assim? O Carnaval é uma festa pagã e a Igreja é quem marca? Calma. Vamos explicar.

Tudo está ligado à Páscoa que é a data mais importante para o cristão. E a data da Páscoa é móvel pois é marcada em função do calendário lunar. Dessa forma, há variações de ano para ano.

Como são necessários 40 dias, depois do Carnaval, para a preparação para a Páscoa há esse ajuste de calendário. Define-se a data da Páscoa e aí retroage-se para determinar a data do Carnaval. É isso.

São 40 dias muito importantes. De reajustar o caminho e voltar-se para Jesus.

Carnaval dos Tempos do Império Romano x Carnaval dos tempos atuais

Numa live recente feita pelo Professor historiador Raphael Tonon, em determinado momento ele comenta um pouco sobre o Carnaval dos Tempos do Império Romano e faz uma analogia até os tempos atuais. Muito, muito iteressante. Vale a pena assistir.

O professor reforça que o Carnaval é uma festa de origem pagã e com o tempo foi cristianizada. Absorvida pela tradição cristã. Mas isso não significa que seja uma festa cristã.

Vamos tentar resumir e explicar por aqui…

Carnaval no Império Romano

Como já comentamos, o Carnaval entre os romanos era uma festividade conhecida, celebrada no mês de fevereiro. Comia-se e bebia-se muito. Tempo de excessos e permissividades. Além, muito além do razoável.

O cristianismo deu um novo sentido a tudo isso. Seria então a transição de um perído comum para um período de penitência. E assim, o Carnaval foi-se transformando ao longo do tempo.

Quando o império romano caiu, a Igreja Católica ficou. Existia um povo pagão, os Bárbaros, e a Igreja pensava neles como um povo que precisava de evangelização. Só que isso deveria ser feito em “pequenas doses”. Não adiantava a Igreja chegar logo de cara e falar de Deus para um povo que cultuava vários deuses e elementos da natureza. Eram violentos, invadiam cidades, saqueavam, matavam…

Foi iniciado um trabalho de aproximação. A Igreja começou a ensinar técnicas de plantio e cultivo; a como fabricar cervejas e outras coisas que interessavam aos bárbaros. Com o tempo, foi-se estabelecendo uma relação mais próxima, de mais confiança. Os reis bárbaros foram se chegando e assim aos poucos foram sendo evangelizados.

E aí com as conversões, começaram a haver mudanças de hábitos de vida.

Carnaval na Idade Média

Durante a Idade Média, um longo período da nossa história compreendido entreo o século V e o século XV, segundo comenta o professor Raphael …” o Carnaval continua sendo uma festividade, porém uma festa mais popular. Sem os excessos de antes. Os valores do evangelho foram penetrando em todos os campos da sociedade. A lei tinha Deus, o direito tinha Deus, a escola tinha Deus, a política tinha Deus”.

Carnaval no Renascimento

Já no século XVI, no Renascimento, começa o processo de recusa de Deus na vida pública e a religião passa a ser praticada mais reservadamente. Individualmente, dentro de casa, meio que escondido. Não que fosse proibida como antes onde os cristãos eram perseguidos. Mas começavam a questionar alguns atos do clero, da Igreja Católica… Estava acontecendo a Reforma Protestante.

Nessa época também o desejo de retornar ao paganismos reacendeu. E aí o Carnaval que valorizava os excessos resurgiu.

Carnaval nos tempos atuais

Se analisarmos o Carnaval atual certamente iremos encontrar em várias ocasiões semelhanças com os tempos da Roma Antiga. Concordam? Ou estamos exagerando?

Aqui não há intenção de crítica ou censura. Apenas uma constatação.

Vale ressaltar que a Igreja em momento algum proíbe o cristão de brincar o Carnaval. E sim, alerta e orienta que o cristão não deve se esquecer de quem ele é.

Cabe a cada um fazer uma avaliação. Determinado ambiente, comportamento, atitude são próprios de quem segue os ensinamentos de Jesus? Esse é o ponto. É possível brincar o Carnaval de forma saudável e sem ferir os preceitos da religião e os mandamentos? Sim, é. Mas é importante estar atento que no geral é uma época de excessos. As tentações estão por aí. Portanto, é fundamental para o cristão seguir firme naquilo em que acredita e nos preceitos que segue.

E por que 40 dias de Quaresma?

O número 40 é muito simbólico na Bíblia. Tem muito significado. Estudiosos atribuem aos vários eventos que são citados nela. Tais como:

  • Os 40 anos do povo judeu peregrinando no deserto ao encontro da Terra Prometida;
  • Os 40 dias de dilúvio em que no final Noé e os seres da arca sobrevivem;
  • Os 40 dias de jejum de Jesus no deserto antes de iniciar sua vida pública de pregação.

Dessa forma, acredita-se que esses fatos tenham sido uma influência para a definição desse período da Quaresma.

Preparação para a Quaresma

Nestes 40 dias até a Páscoa, a proposta da Igreja é que os fiéis façam uma reflexão sobre a vida. É um convite para ir ao deserto com Jesus. Tempo de repensar suas ações, de ajustar os caminhos e de arrepender-se verdadeiramente dos pecados.

É um momento de se reconciliar com as pessoas amadas. De tirar o ódio, a inveja e o rancor do coração.

Como bem coloca o professor Raphael Tonon “É tempo de penitência. De pensar nas realidades finais da nossa vida das quais não escapamos: A morte, o juízo, o inferno ou o paraíso”

É um período de intensificar as orações. De se aproximar ainda mais de Deus de modo que possamos purificar o nosso coração. As nossas intenções.

Na Quaresma os fiéis fazem jejum (isso não quer dizer que vão ficar sem comer durante os 40 dias. Não é isso). Mas em algum dia da semana sacrificam alguma refeição por exemplo. Na própria 4a de cinzas e na 6a feira Santa há abstinência de carne vermelha. E o jejum para ter o verdadeiro significado não deve ser apenas algo externo. Do fazer por fazer.

Nas palavras do Padre Bruno Antônio “Experimentar a fome com o jejum nos recorda que só Deus é o verdadeiro alimento e que D`Ele provém todos os bens. A prática do jejum nos recorda que só a presença de Deus irá nos satisfazer plenamente.” ” O jejum deve ser praticado com simplicidade e sinceridade”.

Atitudes penitenciais

Há as atitudes penitenciais. Uma forma de nos libertarmos de nós mesmos. De repente abrimos mão de algo que gostamos de comer ou algum hábito recorrente que seria um “sacrifício” deixar de fazê-lo. Ou até podemos introduzir algum novo hábito de modo que gere uma ligação maior com Deus.

As práticas predominantes nesse período são oração, jejum e caridade (olhar para a necessidade do outro e ajudá-lo. Não apenas compadecer-se da sua situação).

A Quaresma é um convite para que tomemos as rédeas da nossa vida. Uma vida reta, íntegra, de bons exemplos, ações e de amor ao próximo.

Sabemos que somos falhos, que pecamos por pensamentos, por atos, por omissões… somos humanos. Caímos várias vezes. Mas é preciso saber levantar após cada queda. E nos arrependermos e pedirmos perdão de forma sincera. Com o coração.

É preciso vigiar para não cairmos no mesmo erro. Se é fácil? Não, não é. Mas é possível. E um caminho lindo.

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