As reviravoltas da vida

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A vida está bem “organizadinha” e, de repente, muda tudo. Ou quase tudo. Pois é, são as reviravoltas que a vida dá.

Iludida é a pessoa que acha que tem o controle de todas as coisas viu?!

Pois bem, aqui vai mais um relato pessoal.

Idosa, solteira, sem filhos, aposentada, independente, morando sozinha. Essa é a minha tia querida. E que agora está passando um tempo conosco.

Mora em outra cidade e em maio desse ano perguntou se poderia vir passar uns dias conosco pois não estava se sentindo muito legal. ‘Mas é claro que sim! Não precisa nem perguntar. Venha!’. Respondi. E assim aconteceu. Ela veio.

A geração sanduíche

De repente estava eu atrás de médicos, providenciando exames, organizando os medicamentos dela que havia deixado de tomar (é diabética e tem uma depressão de longa data). Passou a estar sob a minha responsabilidade. Sob os meus cuidados.

Entendi agora o significado da geração “sanduíche”. Que cuida dos filhos, dos netos… e também de quem sempre cuidou da gente.

Ver a minha tia, uma pessoa tão independente e dinâmica, prostrada e entregue mexeu muito comigo.

Aceitar determinadas situações as vezes é duro

Imagino o quanto essa situação toda também vem mexendo com a minha tia. Alguém que sempre foi independente, de repente não consegue tomar a rédia da própria vida. Vê-se dependente de outras pessoas para ministrar seus remédios, pagar suas contas (pois já não acerta mais mexer no aplicativo do banco e sai bloqueando tudo), a memória já não é a mesma… está triste, cansada.

Pra completar, sofreu uma grande decepção dentro da família. Uma história bem triste que não cabe a mim relatar. Triste porque entendemos que a família deve acolher e proteger. E aí a pessoa se vê tendo que ser protegida da sua própria. Complicado isso.

Dia desses ela externou: “No final das contas eu fui a que mais saiu perdendo. Fiquei sem parte da família também. Não ligam mais pra mim”. Como ouvir uma declaração dessa e não ficar com os olhos marejados?

Além do quadro melancólico, das taxas descompensadas por conta da interrupção dos medicamentos (e que graças a Deus estão controladas novamente), descobriu um câncer. Estamos muito otimistas e confiantes na sua cura pois está num estágio inicial. E aqui estamos cuidando dela. Coisa que ela não teria forças no momento para fazer sozinha.

Mexe com todos os que se importam e querem bem

Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Saiu mexendo com todos nós. Com todos os que se importam com ela.

E foi nesse processo de cuidado e de assumir as responsabilidades que quase me descompenso. Mas precisei entender que há um limite entre o que eu posso fazer por ela e o que ela TEM que fazer por ela. Tem coisas que só ela pode fazer. Movimentos que só ela pode fazer…

As vezes ela não quer sair para o tratamento. Fica nervosa, irritada… E é difícil pra gente que cuida, aceitar que o outro diga não a algo que só vai fazer bem. É desgastante. É preocupante. É frustrante.

Nem sempre estamos receptivos para algumas “malcriações”. Afinal, também somos de carne e osso ué.

No início não aceitava muito bem quando ela se negava a sair para o tratamento. Me culpava. Pensava que podia ter feito uma abordagem diferente de modo a motivá-la a levantar e ir. Me sentia as vezes de mãos atadas e responsável pelas consequências do dia de tratamento perdido.

Mas, com o tempo fui elaborando melhor isso em mim. Estou fazendo o melhor que eu posso por ela.

É preciso ter paciência, empatia, acolher e entender que ela tem os seus momentos, as suas razões, os seus porquês. Não está sendo fácil pra ela.

Abraçamos a ela e a sua causa. Todos por um e um por todos 🙂

Procuramos diariamente animá-la, explicar o momento que está passando, explicar o tratamento e as grandes chances de cura.

Digo que há uma equipe imensa de anjos na terra cuidando dela. São muitas as pessoas dedicadas ao seu bem estar. Ela percebe isso.

Em casa estou tendo um apoio fora do comum da minha filha mais nova. Não sei como lidaria com tudo isso sem o apoio dela. A mais velha está fora do país no momento. Me conforta saber que também posso contar com ela.

Quanto ao meu marido… a acolheu como se tia dele fosse. Ao seu modo, preocupa-se com ela.

Achei interessante e ao mesmo tempo estranho quando uma das médicas perguntou: ” E seu marido? O que está achando de tudo isso?”. Pois é, nem todos são receptivos assim.

Essa não é uma história isolada

Talvez você esteja se identificando com alguma situação que coloquei. Ou com mais de uma.

Talvez seja a pessoa que esteja precisando de cuidados no momento. Ou a que está cuidando. São tantas histórias semelhantes, não?

Minha tia deu uma chacoalhada nas nossas vidas? Deu. Nossa rotina estava organizadinha? Estava rsrs. Foi fácil, ou melhor, está sendo fácil gerenciar todas essas novas demandas que chegaram? Não, não está. Mas sabe de uma coisa? Tudo vai se ajeitando. Estamos todos aprendendo a lidar com essas questões. São muitas as novas “caixinhas” que precisamos administrar.

Mas nada é por acaso. Tudo tem um porquê.

Chegou a hora de retribuir um pouco, o muito que ela fez por mim, pela minha família, pela nossa família. Essa já é uma outra história 🙂

Sou grata pelo telefonema que ela deu pedindo para vir. Só assim pudemos descobrir sua doença. Só assim pudemos cuidar dela.

O fato de não querer “dar trabalho” pra gente pesou no início. Vez por outra “ameaçava” voltar pra casa dela. Mas aceitou o fato de que, no momento não é possível. Que o melhor a fazer é ficar conosco. Se cuidando, se tratando, deixando a gente cuidar dela. Afinal, ela já fez tanto por todos nós. A ponto de em muitos momentos esquecer de si mesma. Colocar-se em segundo plano.

Sim, eu sei. Há famílias e famílias… situações e situações. É um assunto delicado. E não vim aqui para fazer julgamentos. Absolutamente.

Por favor, não façam o que “eu fiz”

Assim… não foi uma coisa feita de forma voluntária. Mas sabe o que eu acabei fazendo comigo? Fui me deixando um pouco de lado esses meses.

Quando vi já não estava apreciando a refeição que mais gosto, o meu café da manhã.

Quando vi já não estava levantando cedo para fazer os meus exercícios matinais.

Já não estava escrevendo meus textos, minhas resenhas que eu amo.

Tinha interrompido o meu hábito diário de ler o meu livro da vez antes de dormir.

Já não estava tomando os meus suplementos (lembremos dos artigos por aqui sobre os sintomas da perimenopausa rsrs).

Quando vi não estava rindo mais com tanta frequência.

É. “De repente” vi que estava ficando bem esgotada.

Se a gente não prestar atenção nos sinais, acaba adoecendo viu? Resolvi abrir o olho rsrs.

Se me permite um conselho, não tente dar uma de mulher maravilha ou de super homem e absorver tudo e querer dar conta de tudo. Permita-se ser ajudada (o) e cuidada (o). Assim como você está ajudando e cuidando

A importância de alimentar a alma…

Uma coisa que NÃO deixei de fazer foi alimentar a alma. E como isso tem me ajudado!

Minha caminhada em procurar conhecer e entender mais sobre as coisas do céu permaneceu. Mesmo ciente de que há “coisas” tão grandes que por mais que tentemos não conseguimos explicar. A gente simplesmente sente. Assim como o ar que respiramos e não vemos.

E o que dizer para os que são jovens há mais tempo?

Sim, o que dizer para os que estão passando por uma situação semelhante a que minha tia está passando? Aos que sempre foram independentes, donos e donas das suas próprias vidas, que sempre deram conta das coisas e cuidaram tão bem dos seus?

Não hexitem em pedir ajuda. Sempre vai ter aquela pessoa a qual você é mais próxima (o) e fica mais a vontade de conversar sobre o que está sentindo.

Pedir ajuda não é sinônimo de fraqueza. Todos temos os nossos momentos de vulnerabilidade.

Uma hora tudo vai se acomodando, se ajustando. Todos vamos aprendendo juntos a lidar com os desafios e tribulações que vão surgindo. E juntos somos mais forte, não é mesmo?

O que dizer pra minha tia?

Estamos com você, te amamos e queremos o seu bem. Conte conosco. Assim como sempre pudemos contar com você.

Deixa a gente retribuir um pouco do MUITO que você fez por nós?

Logo, logo estaremos celebrando a sua cura. Seu aniversário está próximo. Comemoraremos mais um ano e um novo ciclo que irá iniciar.

Você vai voltar a gargalhar e a fazer novos planos. Acredite! 🙂

O que dizer a vocês?

Obrigada pelo acolhimento desse desabafo.

Cuidemos dos nossos.

Cuidemos dos nossos idosos. Muitos estão bem vulneráveis. Precisam da gente por perto. Mesmo que achem que não rsrs

Agora também não vamos “sufocá-los” não é? Eles precisam de espaço. É importante que exerçam a sua autonomia.

Sim, precisam de atençao, de carinho, de cuidado… que escutemos e entendamos as suas necessidades e demandas. Assim como todos precisamos.

A nossa rotina está cada vez mais aborrotada de coisas pra fazer e dar conta, não é mesmo? Prestemos atenção ao que realmente importa e é prioridade pra gente.

Não viremos as costas para quem esteve sempre ao nosso lado. Se a gente priorizá-los, sempre vamos encontrar um tempinho. E esse “tempinho” vai fazer toda a diferença…

Por, Fernanda Lemos

4 comentários em “As reviravoltas da vida”

  1. Escrevi um longo comentário sobre seu texto que adorei. Mas. Ele sumiu

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