Já faz um tempinho que venho “martelando” algumas coisas na minha cabeça e fiquei com vontade de dividir por aqui. Falo no “conflito” de gerações e no quão as vezes pode ser difícil entender o comportamento e atitudes dos mais jovens. E vice versa.
Sim! O contrário também acontece. Muitas vezes como pais e mães não nos mostramos inteiramente aos nossos filhos, não expomos os nossos valores, as nossas crenças, as nossas apreensões, as nossas experiências, a nossa história… muito do que poderia elucidar pra eles a nossa razão de ser e agir.
Como mãe, procuro estar atenta e coloco-me aberta para conversar e entender todo esse novo universo que apresenta-se e, confesso, muitas vezes me assusta pela velocidade com que as coisas acontecem, por alguns valores que estão se perdendo… as vezes é complicado …
Barreira invisível
Percebo também que por mais que mostremo-nos abertos e sempre prontos a acolhê-los existe uma barreira invisível que faz com que os nossos filhos muitas vezes não cheguem pra nos contar sobre o seu dia, pra fazer um carinho (que sabemos têm vontade mas pode ser “mico” rsrs), para nos contar sobre algo que os estão angustiando, sobre seus planos … Ah a adolescência! Estão crescendo, buscando os seus espaços no mundo, sua independência. Querem privacidade. E nós precisamos entender esse momento. Cuidando, ficando atentos a alguns comportamentos, orientando-os, mostrando-nos presentes e tomando cuidado para não passarmos do limite de sermos muito invasivos.
Um pouquinho da minha história…
Não fui uma adolescente dentro dos padrões considerados “normais”. Acho que amadureci muito cedo. Ok. Tive alguns comportamentos semelhantes. Era muito introspectiva em casa. Também não me abria. Mas vou tentar explicar…Fui criada pelos meus avós paternos. Meu pai faleceu e eu ainda não tinha 2 anos. Minha mãe não teve condições de ficar comigo (história longa…).
Sentia-me querida e acolhida. PORÉM, em assunto de adulto criança não se intrometia. Sendo assim, era apenas uma ouvinte. E fui crescendo uma boa ouvinte. Entenderam porque não sou parâmetro de comparação? Brinco que só aprendi a falar depois que casei rsrs.
Era muito séria, não gostava de baladas (e nem tinha tantas na época), não tinha muitos amigos (difícil chegar em mim). Como disse, não tinha o perfil de uma adolescente “normal” rsrs.
A geração dos nossos filhos
Hoje nossos filhos têm acesso a muitas informações, são questionadores, observadores, inquietos muitas vezes. Querem fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo. Muitos planos, muitas dúvidas também (o que é natural).
Mas outra coisa que percebo, é que muitas vezes acham que já estão preparados pra vida. Que já sabem de tudo e que são inatingíveis. Blindados. Que nada de mal irá acontecer com eles. E sabemos que não é beeem assim, não é?
Têm pressa, muita pressa. E muitas vezes “queimam” etapas importantíssimas. E o resultado a gente vê por aí: Adolescentes começando a beber muito cedo, as doenças sexualmente transmissíveis voltando com tudo, meninas de 13 anos sendo mães…
Não existe mais a paquera, a arte da conquista. Conheceu… gostou…ficou!
Gente, eu tô exagerando ou é exatamente assim?
Recado, com amor, para os mais jovens
Sei que tem uma galerinha bem jovem que me segue e que eu adoro de paixão. Quero dizer a vocês, que não estou aqui fazendo julgamento de valores. Apenas externando uma preocupação de mãe, tia, amiga de outras mães e pais. Uma preocupação de uma geração que também foi adolescente/jovem, que já “aprontou” das suas mas que mesmo assim se assusta com o rumo que as coisas estão tomando e que, exatamente pelo fato de já ter tido a idade de vocês, consegue enxergar láaaa na frente e ver as consequências das coisas. Captaram?
Vocês sabem que muitas vezes falta limite não é? E o interessante é que, mesmo inconscientemente, esperam esse limite que não vem. Infelizmente.
Um recadinho para os pais de adolescentes e jovens
Cheguem mais junto dos seus filhos, parem um pouquinho para conversar com eles, para saber como foi o seu dia. É preciso aprender a ouvir mais e tentar entendê-los melhor.
Um papo sem censuras, julgamentos… mostrem-se abertos.
Não estou dizendo aqui para serem mais permissivos. Dizer NÃO, colocar limites não é fácil. Mas é uma grande prova de amor e por mais que eles não gostem, fiquem com “ódio mortal”, que saiam batendo porta… um dia eles vão entender e agradecer.
Na verdade, acho que a falta desses limites está contribuindo para tantas dessas coisas que estamos testemunhando.
Uma relação de erros, acertos e a certeza de que não sabemos tudo.
Vez por outra digo em casa que como pais também erramos. Sim! Erramos! Afinal somos humanos. Mas mesmo “errando” o nosso pensamento, o nosso desejo é sempre proporcionar o melhor pros nossos filhos.
Certa vez tive uma conversa muito legal com minha filha mais nova. E num determinado momento ela falou: ‘Até parece que você não me conhece’. E aí eu pensei e respondi: ‘De fato, não conheço você totalmente minha filha. Sabe por que? Porque você não se mostra por inteiro pra mim. Só conheço o que você mostra, o que você permite que eu veja. Percebo muitas coisas através das suas atitudes e comportamentos. Sei da sua boa índole e procuro passar para você alguns valores que considero importantes. Mas, 100% de você eu não conheço’.
Essa minha “fala” me angustiou um pouco. Sabe por que? Porque a gente pensa que sabe tudo da vida do filho não é? Que nada.. E o que nos resta? Estarmos sempre prontos para acolhe-los e orientá-los.
Filho não nasce com manual
Filho não nasce com “manual” não é mesmo? Seria tão mais fácil! Rsrs . Eles vão crescendo e também nos ensinando. A gente se doa. De corpo, alma e coração. É um amor tão grande! A gente quer cuidar, proteger, estar sempre por perto… mas sabemos que há uma hora em que é preciso ir soltando aos pouquinhos pois precisam se preparar pro vôo solo. Ai que aflição! Estamos passando por isso. As daqui de casa “voaram”. Uma voltou e já, já vôa novamente. Faz parte.
Mas o que é esse vôo solo afinal?
Esse vôo solo não significa um distanciamento afetivo daqueles que os amam incondicionalmente. Não significa a ruptura de um vínculo tão bonito. Não existe ex pai, ex mãe, ex filho… Existe um amor muito grande e um desejo de que lá na frente possam contar pros seus netos com muito orgulho, a história que construíram e o exemplo que deixaram. Assim como nós estamos tentando fazer agora.
O nosso desejo como pais é nossos filhos sejam muito, muito felizes. Pessoas do bem.
Proponho aqui que nossas gerações conversem mais. E que assim a gente possa se conhecer mais, se entender melhor, se ajudar e respeitar os nossos diferentes jeitos de ser e enxergar a vida. Que tal?
É isso…
Por, Fernanda Lemos